Gianandrea Villa

O Cristão, a arte e a apropriação crítica da cultura

Nossa tarefa como igreja é de cumprir uma missão, somos povo de Deus reunidos em torno de e sua palavra. E essa missão passa pela adoração, ensino, evangelização e serviço. Mas na hora do exercício da proclamação algumas questões surgem com frequência, especialmente quanto a utilização da arte como meio e expressão de fé.


Mas será que no cumprimento dessa missão nós podemos utilizar as artes? Será que podemos usar qualquer tipo de arte? Será que algumas artes que foram desenvolvidas somente para o entretenimento e diversão podem carregar agora uma mensagem tão poderosa com a do evangelho? Será que não temos que criar nossos próprios meios aos invés de utilizar os mesmos instrumentos que os não cristãos usam? Artista missionário? Será que rola?

Estas questões não são novas, lá no começo da igreja cristã esse debate da estava rolando, um advogado romano do Século III, seu nome é Tertuliano, que depois se converteu ao cristianismo dizia que deveria haver uma separação, que os cristão não deveriam utilizar nenhum meio artístico e filosófico que os de fora da igreja usavam, sua célebre frase expressa isso: “Que relação há entre Atenas (centro da cultura grega) e Jerusalém (centro da cultura Cristã)”. Para ele o cristianismo era basicamente contra-cultural e poderia contaminar-se se utilizasse as mesmas expressões que os pagão utilizam.


Ainda hoje é comum ouvir pessoas, igrejas e instituições religiosas fazerem o mesmo discurso, que devemos nos guardar, e para não se contaminar é melhor se afastar de toda manifestação artística e cultural de nosso tempo, e até mesmo de alguns recursos tecnológicos para que não sejamos influenciados pelo mal que há no mundo e que opera por meio dessas coisas.Mas isto é uma forma bem simplista de ver as coisas, é uma forma reducionista de encarar a cultura. Pois toda a sabedoria vem de Deus, e tudo que é verdadeiro vem de Deus, é bom lembrar que o pai da mentira João 8:44 é o próprio diabo, e que a verdade é o próprio cristo João 14.6, então os cristãos devem honrar a verdade sempre que ela for encontrada, e seja essa verdade expressa por meio de palavras ou expressões artísticas.

Quando ouvimos uma bela poesia, daquelas que tira agente do lugar que está, mesmo sem sair do lugar, e nos transporta pelo tempo e espaço através do pensamento, e experimentamos de uma forma tão forte algo que mexo com nossa estrutura por completo, ou quando vemos uma dança, e aqueles movimento nos mostras de forma poética uma verdade que talvez nenhuma palavra expressaria, ou quando paramos diante de uma tela, e aquelas imagens parassem mais uma janela aberta, um portal, que consegue concretizar pensamentos complexos, sensações e até sentimentos. Ou podemos falar da música, que mexe com a gente ainda no ventre da mãe, as ondas sonoras parecem entrar pelos poros de nossa pele e fazer parte de nós, nos faz rir, nos faz chorar, nós irrita, nos acalma, nos ensina, nos transporta por um caminho que que já passamos antes, ou nos leva pela mão para lugares jamais alcançados, e nos dá saudade até daquilo que jamais vivemos, é simplesmente isto que a arte faz com agente, nos faz transcender.


Tudo isso foi criado e projetado por Deus, essa interação do homem com a plástica, com a estética e a poesia não é por acaso, Deus criou esses mecanismo como forma de expressarmos o inefável, de certa forma a arte é uma parte da criação onde o homem coopera como co-criador, e Deus não criaria por acaso algo que de certa forma é parto de nós, que somos a coroa da criação, o homem distante da arte é um homem que fechou os olhos diante da dinâmica agonia e da beleza que há na própria vida, é viver com medo, o amor que nos arranca dos brações do medo também nos leva de volta para o lúdico, a arte lubrifica existência, nos mostra a graça, nos mostra o real, muito além da concretude. Mas o homem, danado que é, depois do pecado passou a utilizar isto para o seu prazer promiscuo, pecaminoso, então temo noção da cultura caída, utilizada de forma inadequada, ou seja fim ultimo não é o louvor a Deus. Mas então o que faremos? deixaremos toda essa beleza no lixo? É claro que não

A sabedoria e a beleza foram derramadas como sementes sobre a terra, e foi semeada por todo o mundo, e nos cristão devemos estar prontos para encontra-las e poderemos ver claramente aspectos do evangelho impresso nessa sabedoria e beleza, especialmente na cultura, nas artes poéticas.

É ai que entra a apropriação crítica da cultura, que é fazer toda essa beleza transcendente fazer o caminho de volta pra casa, é a capacidade de separar as infelizes associações que os pagãos fazem, e redimir estas expressões, é utilizara arte a partir de sua gênese, de sua origem que é o louvor a Deus, mesmo que sua técnica seja desenvolvida por quem não tem nenhum compromisso com o criador. É separar o que é bom, deixar de lado o que não nos serve, e utilizar isso na proclamação do Evangelho De Cristo.
Nosso dever hoje como missionários e artistas, é apropriar de toda técnica musical, poética, plástica, modo de escrever e de falar e de pensar, que antes foi utilizado pelos pagãos, e redimir de forma que possamos utilizar isto para o serviço missionário, a serviço do evangelho.


Que Deus nos ajude, que o seu espirito nos de um senso crítico para saber separar o que nos serve, e que o Deus da missão nos ajude na honrosa tarefa de viver para ele e morrer nele. 

Texto: Rev. Eric Rodrigues
Foto:
Gianandrea Villa

Tags: No tags