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QUE HISTÓRIA É ESSA DE IGREJA ALTERNATIVA?

Alternativa a quê? – Essa é a grande e principal pergunta quando o assunto é o movimento de igrejas alternativas em todo o mundo. Há ainda demasiada desinformação sobre este movimento tão antigo quanto o próprio cristianismo e uma indisposição natural de diversos líderes de comunidades de fé mais tradicionais em abraçar uma teologia de unidade na diversidade.

Quando lemos sobre João Batista o texto das Sagradas Escrituras nos apresenta um jovem que iniciou sua vida de pregação no deserto da Judéia. João vivia como um nômade pregando palavras de arrependimento e transformação. Quando começou, os judeus estavam esperando o Messias, que iria libertá-los da miséria e da dominação estrangeira.

Os Evangelhos fornecem poucas informações pessoais sobre João Batista, porém, pelo pouco que é dito, podemos presumir que ele tinha uma personalidade forte e vigorosa; algo condizente com a própria singularidade da mensagem que proclamava. Se vestia de uma forma bastante simples. Ele usava vestes feitas de pêlos de camelo, e usava um cinto de couro ao redor de seus lombos (Mateus 3:4). O próprio Jesus fez menção ao fato de que João Batista não usava vestes finas (Mateus 11:8). Ele comia mel silvestre e gafanhotos, alimentos estes que poderiam ser encontrados no deserto. Claro que não podemos entender que esses dois itens consistiam em toda dieta do profeta, mas que refletiam e evidenciavam seu modo de vida simples que apresentava um protesto vivo contra tudo o que ele denunciava.

Mais tarde na história o (311 d.C) o Movimento Donatista, que ganhou apoio entre os berberes, surgiu depois que o cristianismo se tornou a religião romana oficial. A Igreja Católica permaneceu política e culturalmente fiel ao Império Romano, enquanto a Igreja Donatista representava um movimento eclesiástico mais nacionalista, moldado pela comunidade berbere nativa. A Igreja Donatista adotou uma postura dogmática conservadora, mas incorporou uma forma de expressão mais carismática. Eles se orgulhavam de sua herança africana, de sua identidade como uma igreja de mártires e do ensino de Tertuliano sobre o discipulado radical e a pureza da vida cristã.

Nas décadas de 60 e 70, com o desenvolvimento da contracultura e a consequente ascensão de uma nova cultura de drogas, o contato entre os hippies e os movimento cristãos era inevitável. É difícil rastrear seu início preciso, mas evangelismo contínuo para jovens boêmios e usuários de drogas, muito estimulado pela publicação do livro 1963 de David Wilkerson. A Cruz e o Punhal (Bustraan 2014: 68-70), resultou em ministérios locais relativamente não divulgados em Detroit, Fort Lauderdale, Norfolk e outras cidades com populações de jovens boêmios que se assemelhavam ao que mais tarde veio a ser rotulado como o Jesus People. Em 2016 World Religions and Spirituality Project chegou a publicar um artigo em português registrando a jornada deste ministério.

No Brasil dos anos 70 e 80 igrejas como a Cristo Salva em São Paulo e ministérios como a Comunidade S8 no Rio de Janeiro remontam a história da igreja alternativa e inaugura um movimento de volta para casa para muitos cristãos sem igreja, e um espaço realmente aberto para receber a juventude contra-cultura e as minorias, além dos moradores, profissionais e artistas de rua.

À partir da Década de 90, diversas frentes “underground” foram criadas no Brasil e se organiza o Congresso Nacional Underground Cristão reunindo missionários, pastores e líderes de cultura alternativa oriundos de todas as regiões do Brasil. Evandro Sudre, missionário de carreira que idealizou o Urbana em Campo Grande, MS conta que esses encontros como o Ajuntamento das Tribos e o Tribal Generation eram marcados pela pluralidade cultural e pela discussão sobre o alcance de micro culturas, pioneirismo missionário, teologia sadia e sustentabilidade ministerial.

O ministério de Cristo é marcado por seus encontros com os “depreciados desejados” como garotas de programa, indigentes, párias e população de rua e pela marcante habilidade de interagir com diferentes culturas sem jamais abrir mão de seus valores. 

Em toda a história é fácil perceber que as igrejas alternativas prezam por liberdade cultural sem abrir mão da fé reformada e de uma teologia saudável, muitas vezes até mais conservadora que em igrejas históricas ou tradicionais. Diferentes comunidade de fé continuarão a nascer porque há diversidade de pessoas mas o que realmente importa é que haja unidade no povo de Deus e que a despeito dos contrastes culturais diferentes congregações caminhem de mãos dadas, livres do pecado do preconceito unidos pela cruz de Cristo.

“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.

Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós”. – Efésios 4:1-6

Texto: Evandro Sudre | Foto: Keith Green (domínio público)